A principal fonte da história de Santa Filipa Mareri é a legenda tirada do ofício litúrgico em sua homenagem. Este ofício compreende nove leituras tiradas de uma Vita – provavelmente escrita alguns anos após sua morte, em 1236, em vista da canonização – da qual nenhum códice de manuscrito foi preservado, mas apenas é conhecida a elaboração que compõe as nove leituras do Officium Beatae Philippae Mareriae virginis Ciculanae, impressa em uma primeira edição em Roma no ano 1545, e numa segunda em Nápoles, em 1668.
Filipa nasceu no final do século XII, cerca do ano 1190, da nobre família dos Mareri, no castelo de sua propriedade situado em San Pietro de Molito, hoje Borgo San Pietro, província de Rieti. O fundador da baronia da família Mareri foi Filipe, que teve pelo menos quatro filhos: Tomás, Gentil, Filipa e outra filha cujo nome se desconhece. O maior incremento da fama e fortuna da família se deveu a Tomás, que foi um alto funcionário do imperador Frederico II. Filipa começou já na infância a dar mostras de virtude pouco comum e de aptidão excepcional para os estudos. Era-lhe familiar a língua latina o que ajudou-a nas leituras das Escrituras.
Orientada para a vida de perfeição por São Francisco de Assis nos anos 1221-1225, quando o Santo, peregrinando pelo vale de Rieti, se hospedava na casa de seus pais. O que mais a impressionava nele era a oração assídua e o desprendimento de todas as coisas terrenas. Filipa havia tomado ainda jovem a decisão de consagrar-se a Deus, e se manteve com tal firmeza em seu propósito, que não conseguiram dobrar sua vontade nem as pressões dos parentes, nem as ameaças de seu irmão Tomás, nem as ofertas e pedidos de seus pretendentes.
Diante da atitude de seus familiares, Filipa, como anos antes Santa Clara de Assis, cortou por si própria o cabelo, vestiu hábito pobre e, junto com sua irmã e algumas companheiras, se refugiou em uma gruta nas montanhas próximas de seu castelo, desde então chamada “Gruta de Santa Filipa”. Ela a adaptou com austeridades para seus fins e ali permaneceu até que seus irmãos Tomás e Gentil subiram ao monte para solicitar-lhe o perdão e ofereceram às servas de Deus uma igreja dedicada a São Pedro e, com uma ata notarial datada de 18 de setembro de 1228, lhe deram o castelo de sua propriedade em San Pietro de Molito e a antiga igreja beneditina anexa.
Para ali se trasladaram Filipa e suas seguidoras, e em seguida começaram a organizar sua vida claustral seguindo a forma de vida e as normas que São Francisco havia dado à Santa Clara e às suas irmãs do mosteiro de São Damião em Assis. São Francisco indicou um de seus primeiros companheiros, o Beato Rogério de Todi, para dirigir espiritualmente a Santa e as Clarissas do mosteiro por ela fundado. Para tanto, Rogério se trasladou para o vale de Rieti, e ali permaneceu cumprindo sua missão até a morte da Santa em 1236.
O Beato Rogério de Todi (Úmbria), por seu equilíbrio, associado ao mais fervoroso zelo missionário, fora enviado por São Francisco à Espanha para implantar ali a Ordem Franciscana. Erigiu conventos, acolheu religiosos que soube formar no espírito seráfico e os organizou como Província religiosa. Terminada sua missão, regressou à Itália. Com os sábios conselhos do Beato Rogério, homem de grande fervor e não menor prudência, a comunidade de Filipa Mareri se firmou exemplarmente na Regra da Ordem Segunda. Filipa se ligou com afetuosa devoção ao franciscano de Todi, sob cuja direção a comunidade por ela querida progredia na perfeição.
O mosteiro logo se converteu em uma escola de santidade. A ocupação principal da comunidade monástica era o culto e o louvor de Deus, a vida litúrgica, a leitura e o estudo da Sagrada Escritura, a oração e a contemplação. Porém, ao mesmo tempo, o trabalho era tido em grande consideração, como também o atendimento dos pobres e o apostolado. No mosteiro eram preparados remédios que eram distribuídos gratuitamente aos doentes pobres. O fervor da caridade nas palavras e nas obras, bem como o estilo de vida daquelas Clarissas, com Filipa à frente e todas seguindo o Santo de Assis, fizeram reviver a vida evangélica no vale de Rieti, como antes havia acontecido no vale de Espoleto.
Filipa Mareri se tornou para as irmãs mais que uma Abadessa, uma mãe extremosa, empenhada em animá-las à perfeição e consolá-las nos sofrimentos. Seguindo o exemplo de São Francisco e do Beato Rogério, dedicou muita atenção à pobreza, sempre confiante na divina providência. Prostrada diante de um grande crucifixo, chorava ao pensar nas muitas ofensas feitas ao Senhor, fazia penitência e implorava a misericórdia Divina. Aconteceu que uma sua sobrinha, que ingressara no mosteiro, estava na iminência de ser raptada à força pela família. Filipa, intervindo com sua oração, fez com que os parentes não conseguissem movê-la nem retirá-la da clausura.
A Santa predisse o momento de sua morte com muita antecipação. Reunindo as irmãs em volta do leito de morte, exortou-as à oração, à concórdia e ao amor à pobreza seráfica. Ao vê-las tristes e chorosas, exortou-as à alegria: “Não choreis por mim, queridas filhas. Que a vossa tristeza se transforme em alegria! Desde o céu ainda vos poderei ajudar mais. Quero morrer para viver em Cristo, para receber a herança na terra dos vivos. Consolai-vos no Senhor. Perseverai no serviço de Deus. Recordai todas as coisas que eu fiz. E a paz do Senhor, que supera tudo quanto se possa imaginar, guarde o vosso coração e o vosso corpo”. Terminadas estas exortações, encomendou-se humildemente a Jesus Cristo, fortalecida com a Eucaristia e os Sacramentos, na presença do Bem-aventurado Rogério e de outros frades menores, entre as lágrimas das irmãs, faleceu no dia 16 de fevereiro de 1236; ela contava 46 anos de idade. Nas orações fúnebres o Beato Rogério a invocou como se faz aos santos.
O Beato Rogério de Todi sobreviveu pouco a sua filha espiritual: faleceu em 1237 e Bento XIV aprovou o seu culto em 24 de abril de 1751. Logo o túmulo de Filipa se converteu em meta de peregrinações e as graças e os favores extraordinários alcançados de Deus pela intercessão da santa se multiplicaram. Em 1706 foi feito um reconhecimento de seus restos mortais e se constatou que seu coração permanecia incorrupto e é ainda hoje conservado em um relicário de prata.
O Papa Inocêncio IV deu o título de “santa” a Filipa em uma bula de 1247, mas foi o Pio VII quem, em 29 de abril de 1806, confirmou seu culto imemorial e aprovou a missa e o ofício em sua honra. Em 1940, o antigo Borgo San Pietro e o mosteiro de Clarissas fundado por Santa Filipa ficaram submersos sob as águas de um novo lago artificial, às margens do qual foi reconstruído tanto o mosteiro como o povoado. A capela do século XIII, onde eram venerados os restos mortais da Santa, foi restaurada na nova igreja com as mesmas pedras medievais, e foi decorada com os afrescos que a adornavam no antigo mosteiro. O coração de Santa Filipa é venerado ali em um relicário.