Santa Eustóquia de Messina

Filha de uma rica e nobre família messinense, Esmeralda Calafato nasceu na pequena aldeia chamada Anunciata, a poucos quilômetros de Messina, no extremo sul da Itália (ilha da Sicília) aos 25 de março de 1434, quinta-feira santa. Seu pai, Bernardo, nobre da Catânia, era um rico comerciante entre o oriente e as terras do baixo Mediterrâneo, a serviço do rei Afonso V de Aragão e da Sicília. A mãe, Mascalda Romano, representante da aristocracia romana, era de ótimas virtudes cristãs, de profunda oração e de um amor generoso para com os doentes e os pobres. Esmeralda foi a quarta dos seis filhos de Mascalda e Bernardo. Cresceu seguindo o exemplo da mãe, desenvolvendo desde cedo um espírito inquebrantável de oração, sacrifício e penitência.

Dedicava-se aos pobres com amor, vendo neles o rosto do próprio Cristo. Foi educada pela mãe no espírito de oração e piedade, no amor generoso para com os pobres e doentes na vida penitente. Seu pai, como comerciante, muito seguidamente se ausentava de casa, em suas viagens de comércio entre o oriente e as terras do baixo Mediterrâneo e numa de suas viagens chegou a ficar fora de casa cinco anos. Os irmãos maiores, Antônio e Baldo, e o pai, sonhavam Esmeralda bem colocada no mundo e, através de um ato jurídico, aos 11 anos de idade prometeram-na como esposa, ainda com onze anos, a um viúvo de trinta anos, comerciante como eles, entre os países do oriente próximo e os do Mediterrâneo. A morte prematura do noivo, fez retornar a serenidade ao coração de Esmeralda aos treze anos. Ela relutava diante da ideia das núpcias terrenas, sua aspiração era a vida claustral. Mais uma vez os dois irmãos, na ausência do pai contrataram casamento, sem sua aprovação.

Sua fervorosa oração na noite anterior ao encontro com o futuro marido, obteve-lhe a liberdade para realizar seus planos. Deus dispôs os acontecimentos de modo que seu noivo repentinamente teve de partir para regiões longínquas, com a previsão de uma longa ausência. Assim, depois de ter suportando longas e duras lutas, por causa da resistência do pai e dos irmãos, pode realizar seu anseio de vida franciscana com quinze anos, ao final de 1449, um ano depois da morte do pai. Ingressou no Mosteiro de Clarissas urbanistas de Basicó, em Messina; era um patronato régio, que acolhia as jovens de família nobre não destinadas às núpcias, e nem sempre chamadas por inspiração divina. Lá Esmeralda recebe o nome de Irmã Eustóquia. Inflamada de amor pelo seu Esposo Celeste, ligou-se a ele especialmente no mistério da Paixão. Fez de Jesus o respirar de sua vida, dia e noite o quis amado pelas suas coirmãs, para as quais concebeu o desejo de uma vida de total dedicação à pobreza absoluta.

Inspirada pelo movimento de reforma franciscana do ramo observante na Sicília, desejava conformar a sua vida no espírito da Regra própria de Santa Clara. Superando numerosos obstáculos, sobretudo da parte da abadessa do Mosteiro de Basicó, obteve com a ajuda da própria mãe Mascalda e de sua irmã Margarida, uma bula do Papa Calisto III (1457) e outra no ano seguinte com a ordem de fundar em Messina um Mosteiro sob a Regra de Santa Clara. Com apenas duas companheiras, depois de inúmeros sofrimentos em Basicó, Eustóquia sai do Mosteiro de Urbanistas à noite, sem ser notada. Com Jacoba Policino e Lisa, aloja-se num velho hospital (1460).

Ao final de 1460, com a aprovação do Papa Calisto III, através de Bulas de 1457 e de 1458, fundou o seu mosteiro com a Forma de Vida de Santa Clara, no local de um velho hospital em Messina. Foi seguida em seu ideal de austeridade amorosa a Jesus sofredor e pobre, pela companheira Jacoba Pollicino, que foi a sua biógrafa, e com a qual se revezou nos serviços de abadessa, vigária e mestra durante todo o tempo de sua vida, por escolha das irmãs. Entre as novas seguidoras que ingressaram, viu com alegria a própria irmã Margarida (Mita), e Paula, de onze anos, filha de seu irmão Antônio, já falecido no final de 1458. As péssimas condições do hospital exigiram que se transferissem depois de três anos para um novo locar, onde ainda permanece atualmente o Mosteiro Mosteiro Montevirgine de Messina. Eustóquia foi eleita abadessa e neste ofício se revesou com Jacoba até o final da vida. Não queria que uma abadessa continuasse no ofício por mais de três anos, talvez motivada pela experiência de Basicó, onde a mesma abadessa governou durante toda a sua vida (1433-1482).

Eustóquia tinha apenas trinta anos quando teve de aceitar, a pedido das irmãs e do Bispo,  o cargo de abadessa de suas irmãs, que amou com coração de mãe, pronta a todo o sacrifício e com a ternura própria de quem gerou, no espírito, modelando-as conforme o seu “dulcíssimo” amado, objeto contínuo e insubstituível de seus pensamentos e de seu amor, olhado especialmente para as suas dores e as suas humilhações. Teve à sua escola também a mãe, Mascalda, uma nobre romana, que se fez clarissa em 1464, e morreu provavelmente em 1482, pouco antes de sua filha Mita, que havia recebido o nome de Francisca, e morreu a 19 de novembro de 1483. Eustóquia lutou por uma autêntica vivência da pobreza evangélica e franciscana.

Ela interessou-se grandemente pela espiritualidade de Santa Clara; obteve do Protomosteiro de Assis uma cópia dos escritos da fundadora da Ordem, que se conservam atualmente como o importante Códice de Messina (com duas versões da Regra de Santa Clara – latim e dialeto siciliano, o Privilégio da Pobreza, a Forma de Vida do cardeal Reinaldo, o Testamento de Santa Clara, a Bênção, e uma Bula de Eugênio IV de 1447). Ao seu fervoroso empenho deve-se a tradução da Regra de Santa Clara para o dialeto siciliano, o que facilitava enormemente a leitura e o estudo para as Irmãs que não sabiam o latim. Todo este trabalho fez parte de um conjunto de reformas de grande importância para a renovação da vivência do ideal clariano em sua pureza evangélica. Exortou as suas irmãs, com o exemplo e a palavra, à oração litúrgica das horas diurnas e noturnas, à freqüência dos sacramentos, à participação pessoal e íntima no divino Sacrifício da Missa, em tributo de gratidão viva ao Senhor; à adoração do “Altíssimo Sacramento”, desenvolvida também à noite; à estima sincera e a um interesse vivo pelas indulgências; à meditação e contemplação da Paixão do Senhor, com o intento de chegar à união esponsal com Jesus, até o dom místico.

A experiência mística e espiritual de Santa Eustóquia põe em destaque no amor profundo à Paixão de Jesus. Escreveu uma série de meditações intituladas Livro da Paixão, a pedido das próprias Irmãs, que ficavam encantadas com as exortações que fazia oralmente. Este livro está em harmonia com os Evangelhos, com um prólogo e dezesseis capítulos. Ao final de cada um dos primeiros dez capítulos, sugere algumas considerações suas; depois prefere a simples narração, alimento para a amorosa contemplação pessoal, na qual ela parece estar inteiramente absorta. O texto, em dialeto aproximativo do toscano (copia de um texto siciliano) foi encontrado em 1979 por um jesuita, Francisco Terizzi na Biblioteca Ariostea de Ferrara. Jacoba, depois da morte de Santa Eustóquia enviou uma cópia à abadessa de Foligno, a Bem-aventurada Cecília Coppoli (1486) juntamente com o texto da Legenda, biografia compilada em colaboração com Jacoba, Cecília Ansalom e Jerônima Vacari, companheiras de Eustóquia.

Teve a coroação de espinhos, invisível, por doze anos; depois, por três anos, os últimos de sua vida, os estigmas, invisíveis, nas mãos e nos pés, com a ferida visível do lado e a transverberação do coração. Foi assistida pelo Senhor, também milagrosamente, nas não poucas dificuldades que obstaculizaram com tenacidade e de direções diversas, o seu caminho para a perfeição, e o seu chamado a ser modelo e guia para tantas outras almas sobre a mesma via do seguimento de Jesus Cristo. Não procurou a ajuda dos poderosos, mas não refutou a colaboração dos corações generosos, que considerou como a mão da Divina Providência, na qual unicamente pôs as suas esperanças. Foi fiel imitadora de São Francisco e de Santa Clara.

A fama de santidade de Eustóquia e os milagres que realizou já em vida atraíram-lhe a estima e o afeto do povo messinense, perdurando nos séculos. Em 1482, morreu a mãe de Santa Eustóquia, que ingressara na escola da filha em 1464. No seguinte ano morre também Margarida, sua irmã, que na Ordem tomara o nome de Francisca (19 de novembro de 1483). Morreu a 20 de janeiro de 1485, depois de sérios períodos de enfermidade, em que procurou identificar-se profundamente com os sofrimentos de Jesus em sua paixão. E floriram em torno ao seu corpo ainda incorrupto, favores e graças, mesmo extraordinárias, até os nossos dias.

Foi beatificada por Pio VI em 1782, e canonizada por João Paulo II em 12 de junho de 1988. Seu corpo permaneceu incorrupto na igreja do Mosteiro Montevirgine em Messina. Foi canonizada a 11 de junho de 1988 pelo Papa João Paulo II, na própria cidade de Messina. Celebramos sua festa no dia 20 de janeiro.


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