Beata Margarida de Lorena

(1463 - 1521)
1521-margaridadelorena

Margarida de Lorena, Duquesa de Alençon, nasceu em 1463 no Castelo de Vaudémont, próximo de Nancy. Era filha de Henrique de Vaudémont e de Iolanda d’Anjou, descendente de São Luís IX de França. Foi educada na corte do seu piedoso avô, rei Renato d’Anjou. Os seus principais textos de estudo, a Legenda Áurea e as Vidas dos Santos, produziram nela tal impacto, que aos 10 anos de idade já sonhava em ser eremita, como demostra um episódio curioso: durante um passeio coletivo, Margarida e mais algumas companheiras separaram-se do grupo. Julgando-se que se teriam perdido na mata, organizou-se uma operação de busca. Quando à tardinha a encontraram, confessou que se tinha escondido de propósito para experimentar como seria a vida eremítica.

Por ocasião da morte do Rei Renato, ela voltou para a Lorena. Em 1488 casou-se com Renato Duque de Alençon, filho de um companheiro de Santa Joana d’Arc nas lutas contra os ingleses. Mas a vida do casal não foi fácil, pois os desastres da Guerra dos Cem anos fizeram-se sentir no pequeno ducado. A situação da esposa tornou-se ainda pior quando lhe morreu o marido, deixando-a viúva aos 32 anos de idade, com três filhos de tenra idade para criar. A partir de então, como mulher forte, dedicou-se à educação dos órfãos, cuja tutela os parentes pretendiam assumir. Opondo-se à essa pretensão, Margarida esmerou-se na educação dos filhos, conseguindo que eles se tornassem jovens admiráveis que conseguiram ótimos casamentos. Margarida governou com sabedoria o Ducado de Alençon.

Durante os 20 anos de regência do Ducado de Alençon arruinado pela Guerra dos Cem Anos, Margarida revelou que a gestão dos assuntos temporais não é incompatível com o ideal do Evangelho: ela sanou as finanças do Ducado, reformou os costumes, humanizou a vida social prestando assistência aos “pobres envergonhados” (aqueles que não se atreviam a pedir), refez a unidade da diocese de Séez dividida entre dois bispos, reformou as abadias de Almenèches e St. Martin de Séez e fundou mosteiros de Clarissas em Alençon, Mortagne, Château-Gontier, Mayenne e Argentan. Ela também restaurou e embelezou muitos monumentos civis e religiosos, incluindo igrejas de Mortagne, Argentan e Alençon. Assim, em 1505 concluiu a construção da Igreja de São Leonardo de Alençon.

Finalmente, quando seu filho mais velho, Carlos, atingiu a maioridade, ela transferiu para ele o poder; Carlos se casaria com Margarida de Navarra, irmã do rei Francisco 1º. Viúva abastada, ela se consagrou plenamente a servir os doentes e os pobres, que ela chamava de “seus senhores”. Visão sagrada da pobreza que tem suas raízes no Evangelho e na tradição franciscana. Livre do cuidado dos filhos e do ducado, dividiu seus bens em três partes: uma destinada aos pobres, outra a Igreja e a terceira ao seu próprio sustento; depois se retirou no Castelo de Essai, que se transformou num verdadeiro mosteiro, e permaneceu em estreito contado com as Clarissas de Alençon.

O bispo da diocese chegou mesmo a recomendar à duquesa que moderasse as suas práticas ascéticas bastante exageradas, como passar noites inteiras em claro em oração, usar cilícios, fazer grandes temporadas de jejum, e flagelar-se com violência para “saborear um pouquinho da Paixão de Jesus”, como ela mesma costumava dizer. Cedendo às exortações do prelado, Margarida aceitou mudar o método: passou a cuidar das chagas dos doentes, num ambulatório aberto por ela em Mortagne. Margarida seguia os conselhos e o exemplo de sua cunhada Felipa de Gueldre, Duquesa da Lorena e Rainha da Sicília, que também ingressou nas Clarissas.

Antes de se tornar Clarissa em Argentan, Margarida enriqueceu igrejas e mosteiros com bordados de mérito incalculável, feitos por ela com todo o carinho: o famoso “ponto de Alençon”, uma arte das mais sutis, e que lhe dão direito a ser considerada legítima ascendente das nossas modernas rendeiras. O apadrinhamento histórico desta famosa renda cabe à Beata Margarida. Esta antepassada de Henrique IV, nora do “Gentil Duque”, que foi o companheiro de armas de Santa Joana d’Arc, não se limitou a administrar o ducado com tal sensatez e condescendência que lhe deram o nome de “mãe de toda a caridade”: ela praticou e incentivou esta arte que perdura até nossos dias, e da qual também foi uma engenhosa empreendedora a mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Zélia Guerin.

Por fim, Margarida ingressou no mosteiro das Clarissas de Argentan para partilhar a vida duríssima das filhas de Santa Clara. Ela professou do mosteiro de Argentan no dia 11 de outubro de 1520, nas mãos do Bispo de Séez, na presença do Irmão Gabriel Maria, comissário geral dos Menores da Observância, enquanto sua cunhada, Felipa de Gueldre, entrava nas Clarissas de Pont-à-Mousson. Ela deu exemplo da mais generosa observância da Regra; dotou o mosteiro de Estatutos particulares aprovados pelo Papa Leão X: ele autorizou Margarida a agregar ao mosteiro casas de religiosas da Ordem Terceira regular que ajudariam as religiosas reclusas.

Foi, porém, uma experiência de pouca duração, pois ao fim de dois anos Margarida adoeceu gravemente, e preparou-se para a morte, que ocorreu no dia 2 de novembro de 1521, tendo ela 58 anos de idade. Faleceu com grande fama de santidade. Só então se descobriu que ela trazia ao peito uma cruz de ferro com três pontas aguçadas que se lhe cravavam na carne.

A memória de Margarida da Lorena foi preservada no Martirológio Franciscano e no Martirológio Gálico. Após um convite feito pelo Bispo de Séez, Jacques Camus de Pontcarri, Luís XIII rogou ao Papa Urbano VIII que ordenasse um processo canônico sobre as virtudes e os milagres da piedosa Duquesa d’Alençon. Seu culto, entretanto, somente foi aprovado por Bento XV no dia 20 de março de 1921. Ela é comemorada no dia 2 de novembro. A Igreja reconhece nela um “modelo para os que governam os povos”.

Compartilhe:

Mais Artigos: