307 anos da morte de Madre Vitória

Homilia do Cardeal Dom Sérgio da Rocha
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Texto da Homilia:

Madre Vitória da Encarnação, recordando hoje os 307 anos do seu falecimento, bendizendo a Deus não só pela sua vida, pelo testemunho de santidade que ela nos deixou, mas sobretudo pelos frutos da sua vida, da sua santidade na Igreja.

Nós temos a Palavra de Deus que acabamos de ouvir que é a grande luz que vai iluminando a nossa vida. E temos também a própria Palavra de Deus vivida por Madre Vitória da Encarnação, que é seu testemunho de vida iluminando este momento de reflexão e sobretudo o nosso caminhar como cristãos chamados à santidade, assim como ela vivenciou a vocação à santidade que o Senhor espera de todos nós.

A Palavra de Deus que acabamos de ouvir são leituras próprias da Missa de hoje, portanto são as mesmas leituras que são feitas no mundo inteiro, mas certamente fala ao nosso coração nesta recordação, nesta memória de Madre Vitória.

Primeiramente o profeta Miquéias. Num tempo difícil, de infidelidades, de iniquidade, ele renova a sua confiança naquele que é o Senhor Misericordioso e ajuda o povo daquele tempo a confiar em Deus, a colocar em Deus a sua segurança, a sua esperança, e a viver a Aliança, a viver o que o Senhor falava através dos profetas, através da Lei de Moisés. Nós também vivemos tempos difíceis. Não é que a época de Madre Vitória da Encarnação fosse fácil, também tinham desafios muito grandes, problemas na sociedade, na vida das famílias, pecados. Mas no meio de tudo aquilo ela fez o mesmo que o profeta Miqueias, isto é, confiou na misericórdia de Deus, acreditou no contento de Deus capaz de superar tantas situações de maldade, de pecado, de sofrimento. E ela permanece fiel ao Senhor durante a sua vida, sua vocação, sua missão de monja contemplativa Clarissa.

O Evangelho nos fala de cumprir a Palavra de Deus e viver a Palavra de Deus. Ninguém pode ser santo se não for trilhando o caminho da Palavra, o caminho dos mandamentos do Senhor, do seu ensinamento. Assim foi com Madre Vitória, assim foi e é com todos os santos da nossa Igreja. Ninguém é santo por conta própria. É pela graça de Deus, pela misericórdia de Deus proclamada pelo profeta Miquéias. Ninguém é santo sem a luz da Palavra de Deus, sem a sabedoria de Deus. Não achamos o caminho a seguir sozinhos. a Palavra de Deus é esta grande luz que nos vai iluminando.

E hoje fala-se de quem é a família de Jesus. Há uma referência à sua Mãe, àqueles que são chamados irmãos, aos parentes de Jesus. Quem é que é da família Dele: são aqueles que cumprem a vontade de Deus, aqueles que fazem a vontade de Deus, aqueles que cumprem a Palavra, que vivem a Palavra. Esta passagem em nada diminui a importância da Mãe de Jesus e nossa Mãe, Nossa Senhora, porque a ela se aplica em primeiro lugar, acima de tudo, esta Palavra. Porque ela viveu plenamente a vontade de Deus, ela cumpriu a Palavra de Deus. Lembrem-se das palavras dela na anunciação: “eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim”, ou seja, cumpra-se na minha vida a Palavra de Deus, a vontade de Deus. Por isso, o Evangelho de hoje, podemos dizer, que é um elogio à Nossa Senhora, uma vez que ela é a discípula por excelência de Jesus Cristo, aquela que segue a Jesus fielmente subindo com Ele o Calvário. Assim foi com a nossa Madre Vitória, foi um sim que foi se renovando ao longo de sua vida, de sua vocação, mas sobretudo quando ela precisava subir o Calvário com Cristo nos momentos de provação que ela passou, nas dificuldades que viveu. Ela permaneceu fiel, ela permaneceu cumprindo a Palavra de Jesus, a vontade de Deus na sua vida.

Hoje nós bendizemos a Deus pela vida, pela santidade da Madre Vitória da Encarnação, recordando de modo especial, dentre tantos outros exemplos que ela nos deixou, a sua vida de oração. É normal que todo o cristão reze e sobretudo uma religiosa possa rezar ainda mais, e contemplativa mais ainda. Mas ela era muito generosa, além do normal, na sua vida de oração. Passava vigílias inteiras em oração. Era alguém que sabia que não podia ganhar, não podia viver, sem a graça de Deus, sem o amor de Deus, sem a misericórdia de Deus. Por isso a sua oração ia além daqueles compromissos que ela tinha em vida comunitária, de rezar com as outras irmãs, gastar o tempo, e muito tempo, diante do Senhor, fazendo aquilo que ouvimos no evangelho do domingo passado: sentamos aos pés do senhor para escutá-Lo.

Nós sabemos da vida penitente de Madre Vitória da Encarnação. Ela não precisaria fazer penitência pelos seus pecados, uma vez que vivia santamente. Mas ela fazia sim penitência pela conversão dos pecadores, e é claro, humildemente por ela também, mas sobretudo pela conversão dos pecadores. E nós vemos na sua vida inúmeras referências às penitências que ela fazia, para poder se converter sempre mais, ser cada vez mais santa, mas para poder ajudar os outros a serem santos. Ela acreditava, como a Igreja nos ensina hoje, que através da penitência você não só trilha um caminho de santificação, mas você ajuda outras pessoas a se santificarem.

Deus acolhe sua penitência como um sacrifício de louvor se essa penitência é acompanhada da caridade para com o próximo, que era o que acontecia na vivência da vocação de Madre Vitória da Encarnação nesta casa, neste convento. Ela serviu os mais pobres. Ela amou e serviu aqueles que mais sofriam, a começar por aqueles que naquela época tinham a condição de escravos. Soube amar, soube servi-los, soube ser generosa com os irmãos que viviam naquela condição com Cristo. Soube servir os doentes, arriscando a sua vida, não tendo medo até mesmo de contágios. Hoje quanta gente na pandemia está se doando, muitas vezes arriscando a própria vida para servir os que sofrem, os enfermos. Assim fazia Madre Vitória da Encarnação em uma outra situação. A sua vida de oração, a sua vida de penitência foi acompanhada da caridade, e não podia ser diferente. Porque é a caridade que permanece, é o que diz São Paulo. E a caridade dela permaneceu. Já em vida ela brilhava por esses exemplos de humildade, de serviço caridoso aos enfermos, aos mais pobres, aos escravos. E hoje nós estamos precisando muito de gente que viva como ela viveu, que possa seguir o exemplo que ela nos deixou de caridade, de solidariedade, de serviço humilde e generoso aos que mais sofrem.

E por fim, como não podia deixar de ser, sua simplicidade de vida. A pobreza que ela abraçou como religiosa, como Clarissa, mas também sua disposição sincera de ir além daquilo que era exigido dela, nada tem, sabemos da simplicidade dos seus aposentos, da dificuldade dela de aceitar até mesmo um leito, uma cama, que fosse digna, que fosse necessária. E quando morre até mesmo não queria nem as suas vestes, queria deixar tudo e ter a veste que alguém cedesse à ela, porque tudo ela queria deixar, tudo queria se despojar, até mesmo as vestes que ela usaria quando morreu, que fosse aquela que alguém desse à ela, pois ela queria deixar tudo o que era dela, tudo aquilo que de alguma forma chegou até ela. É um exemplo muito grande de despojamento, de simplicidade, de pobreza, como Jesus ensinou.

Por isso tudo, meus irmãos e minhas irmãs, que nós estamos aqui nesta manhã, que tem gente rezando conosco, e tem muitas outras pessoas que tem sua devoção crescente voltada à Madre Vitória da Encarnação. Nós esperamos crescer nesta devoção, apesar das limitações e desafios, e sobretudo seguir em frente com a causa de beatificação da Madre Vitória da Encarnação, esta serva de Deus que foi de fato servidora do Senhor, da Igreja e dos irmãos.

 

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