S. Francisco de Assis fez um caminho muito peculiar e próprio de conversão evangélica durante sua vida, e a esse itinerário chamou de vida de penitência, o que quer dizer conversão mesmo, levando-nos ao original da vida cristã. Levar uma vida de penitência é buscar a Deus sempre, morrer pra si e deixar viver o Sumo Bem. Essa forma de penitência, no entanto, não é meramente individual; na ótica franciscana, é vivida na experiência da fraternidade.
A espiritualidade franciscana acentua a dimensão fraterna da busca de Deus. Expressa um dos mais estupendos mistérios de Deus – a vida Trinitária. Francisco foi um homem que buscava em todos os seus escritos realçar a Trindade a partir vida. Na Carta ao Fiéis exclama: “Como é honroso ter no céu um Pai santo e grandioso! Como é santo ter tal esposo, consolador, belo e admirável! Como é santo e amável ter tal irmão e um filho agradável, humilde, pacífico, doce, amável e, sobre todas as coisas, desejável: Nosso Senhor Jesus Cristo que entregou sua vida por suas ovelhas!”
Francisco tem um modo fraterno de ver Deus como comunidade. Ele não fala de Deus Uno e Trino, mas, Trino e Uno. Acentua que a Trindade é unidade porque é comunidade. Por isso que a dimensão de Deus-comunidade é latente na espiritualidade franciscana.
Quando Francisco fala de Nossa Senhora, coloca-a na relação com a Trindade. Tomemos a belíssima Antífona de Nossa Senhora do ofício da Paixão: “Santa Virgem Maria, entre as mulheres do mundo, não nasceu nenhuma semelhante a ti, ó filha e serva do altíssimo e sumo Rei e Pai celeste, mãe de nosso santíssimo Senhor Jesus Cristo, esposa do Espírito Santo.”
A Virgem Maria está na relação com a Trindade. Sua vida foi marcada por uma relação geradora de vida em Deus. Ela é a nova Eva, mãe de todo o ser vivente, sendo criatura, sendo mãe de Deus.
Francisco viveu transparecendo essa compreensão trinitária muito concretamente. Contemplava o Pai celeste que escolhera em lugar de seu pai terrestre. Amava Jesus Cristo, o Filho, com profunda reverência nos mistérios da Encarnação, da Eucaristia, e da Paixão. Desejava o Espírito Santo com amor esponsal, e queria que fosse o Ministro Geral da Ordem; “devem desejar possuir o Espírito do Senhor e seu santo modo de operar” (RB, VIII,9).
Francisco, homem católico; eclesial; cristocêntrico; fraterno; cósmico; e trinitário! Buscava o Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Frei Alberto Beckäuser escreveu: “Um autêntico herdeiro da tradição litúrgica”.
Francisco, que rico legado deixou a nós, seus filhos! Viver em fraternidade é ser expressão do “rosto Trinitário de Deus” na Igreja e no mundo! Celebremos a solenidade da Santíssima Trindade com o coração jubiloso, e conscientes que esse mistério perpassa toda a nossa forma de vida.
Frei Lucas Moreira Almeida, OFM – www.franciscanosrondinha.com.br/
Oração à Santíssima Trindade
Santíssima Trindade, beata e beatificante, tornai felizes os vossos filhos e filhas que chamastes para confessarem a grandeza do vosso amor, da vossa bondade misericordiosa e da vossa beleza.
Pai Santo, santificai os filhos e filhas que se consagraram a vós, para a glória do vosso nome. Acompanhai-os com o vosso poder, para que possam testemunhar que vós sois a Origem de tudo, a única fonte do amor e da liberdade. Agradecemos-vos o dom da vida consagrada, que na fé vos procura e, na sua missão universal, convida a todos a caminharem para vós.
Jesus Salvador, Verbo Encarnado, tendo entregue a vossa forma de vida àqueles que chamastes, continuai a atrair para vós pessoas que sejam, para humanidade do nosso tempo, depositárias de misericórdia, prenuncio do vosso regresso, sinal vivo dos bens da ressurreição futura. Que nenhuma tribulação os separe de vós e do vosso amor!
Espírito Santo, Amor derramado nos corações, que concedeis graça e inspiração à mente, Fonte perene de vida, que levais a cabo a missão de Cristo com os numerosos carismas, nós vos pedimos por todas as pessoas consagradas. Enchei o seu coração com a certeza íntima de terem sido escolhidas para amar, louvar e servir. Fazei-lhes saborear a vossa amizade, cumulai-as da vossa alegria e do vosso conforto, ajudai-as a superarem os momentos de dificuldade e a levantarem-se confiadamente depois das quedas, tornai-as espelho da beleza divina. Dá-lhes a coragem de enfrentar os desafios do nosso tempo e a graça de levarem aos homens a bondade e o amor do nosso Salvador Jesus Cristo.
(São João Paulo II)