Tendo por vocação adorar a Deus no Santíssimo Sacramento, as irmãs clarissas do Mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos, na Gávea, iniciam e encerram o dia cantando os louvores de Deus. No solo sagrado da clausura, vivem a vocação contemplativa, de acordo com as regras de Santa Clara e de São Francisco de Assis, na busca de fazer a experiência do amor exclusivo e radical com Cristo, seguindo-O com todo o coração, quer nos simples afazeres do cotidiano, como na oração e adoração. Elas que têm a missão de rezar pelas necessidades da Igreja e da Humanidade. Em nome de todas as religiosas do mosteiro, a irmã Maria Pacífica de Jesus, OSC contou, em entrevista ao Testemunho de Fé, como reagiram, o que estão fazendo e o que aconselham às pessoas nestes tempos de pandemia.
Testemunho de Fé (TF) – Como a comunidade das irmãs clarissas, que vivem na clausura, reagiu quando soube da pandemia? Houve preocupação?
Irmã Maria Pacífica de Jesus, OSC – Muita preocupação com o sofrimento do povo, principalmente dos mais pobres, os habitantes de favelas, de pequenas casas, sem possibilidade de manter distância ou afastamento maior. Também houve preocupação e cuidado, pois temos algumas irmãs idosas.
TF – Com a pandemia houve alguma mudança no cotidiano da comunidade?
Irmã Maria Pacífica – A vida normal das clarissas, como do mosteiro, não se alterou muito com a pandemia. Podemos dizer que aumentamos, intensificamos nossas preces em razão da pandemia, porque continuamos a nossa rotina diária de orações e de trabalho. Vivemos este período, antes de tudo, levando ao Senhor a nossa oração, em todas as horas do dia. Vivemos na esperança e na certeza de que o Senhor cuidará de tudo isso porque é Ele que vela por nós. E como nossa Mãe Santa Clara ouviu de Jesus no momento em que o mosteiro estava sendo invadido, “Eu sempre vos guardarei”. Confiamos que Ele irá preservar nossa cidade de um mal maior. É um momento difícil. Porém, devemos confiar. Temos no mosteiro algumas irmãs do serviço externo para o atendimento da portaria e saídas necessárias. Elas sim usam máscaras, e nos preocupamos para que usem álcool em gel, e que lavem as mãos frequentemente, o que já fazem mesmo.
TF – Houve uma maior procura por parte do povo para pedir orações?
Irmã Maria Pacífica – Sim, aumentaram os e-mails e telefonemas de pessoas pedindo orações por seus entes queridos, familiares e amigos, infectados ou mesmo por seus falecidos. E também agradecendo quando eles conseguem retornar para casa. Oramos especialmente pelos médicos, enfermeiros, agentes de saúde, de limpeza nos hospitais e ambulatórios, seguranças, policiais, coveiros, que arriscam suas vidas em heroicas dedicações.
TF – Quais são as práticas que a comunidade das irmãs clarissas está fazendo para o fim da pandemia?
Irmã Maria Pacífica – Além das sete horas do Ofício Divino, a Liturgia das Horas, temos as orações comunitárias, o Rosário, a adoração ao Santíssimo Sacramento diariamente, conforme o carisma da Mãe Santa Clara representada com o ostensório nas mãos. Acrescentamos orações, como a do Papa, pelo fim da pandemia e súplicas a Jesus Sacramentado. E a pedido de nosso Cardeal Orani e de Dom Roberto, que é o vigário episcopal para a Vida Consagrada, fazemos adoração noturna pelo fim dessa pandemia e por todos que estão sofrendo com esse vírus.
TF – Quais os conselhos que as irmãs clarissas podem dar para o povo de Deus nestes tempos, principalmente para os que estão em distanciamento social?
Irmã Maria Pacífica – A nossa vida pode ser um exemplo, porque é uma vida que impõe ritmos diferentes, devido à clausura. Mas, para quem não tem essa vocação é mais difícil porque está acostumado a tudo, a saídas diárias etc. Sabemos que para muitas pessoas é um problema, porque como nos dizem que passar o dia desse modo torna-se tedioso, fica muito difícil, e para as crianças mais difícil ainda. Seria oportuno procurar nesse tempo organizar sua rotina dentro de casa, ler bons livros, aproveitar para estar mais com a família, brincar com os filhos, uma Igreja doméstica. A sociedade estava muito fechada em si mesma e, agora, com essa grande epidemia um pensa no outro que está precisando, porém não podemos sair dessa pandemia do mesmo jeito que entramos; precisamos ser pessoas melhores. Parar para escutar mais o que Deus está nos dizendo, pois nosso barulho não nos deixa ouvir. Procurar os verdadeiros valores para nossa vida, uma solidariedade maior, pensar no bem comum, ter mais simplicidade, amor ao próximo, aumentar nossa fé e confiança no auxílio divino, sob a proteção da Mãe Santíssima, Nossa Senhora.
TF – Com base na Palavra de Deus, que reflexão podemos fazer deste momento de pandemia?
Irmã Maria Pacífica – Sempre de um mal, Deus tira uma lição para nossa vida, um bem maior. É muito bonito ver desde as grandes empresas até os mais pobres procurando uma forma de ajudar quem está necessitado. Há os que fazem grandes doações para os hospitais, e também têm doações simples, como a da pobre viúva do Evangelho, fazendo máscaras caseiras para quem precisa. Neste momento, todos são iguais. Que sejam abençoados pelo nosso glorioso Deus de amor.
Fonte: http://arqrio.org/