A virgindade por causa do reino dos céus comporta uma renúncia a maternidade física, contudo essa renúncia física, em nossa consagração total a Cristo nos abre para a experiência da maternidade espiritual que envolve toda humanidade abraçada pelo Cristo Esposo.
A maternidade física implica desde o início uma abertura especial para a nova pessoa, nessa abertura, ao conceber e dar à luz o filho, a mulher « se encontra por um dom sincero de si mesma. Na maternidade espiritual vivemos constantemente em dores de parto, unidas com todo o nosso ser ao Espirito Santo que através de sua ação gera Cristo em nós, para que possamos gerar vida para o mundo.
Na maternidade física é sobre a mulher que recai diretamente o « peso » deste comum gerar do homem e mulher, que absorve literalmente as energias do seu corpo e da sua alma. Na maternidade espiritual todos os dias diante do Santíssimo Sacramento, na oração dos Salmos, nas orações pessoais ou comunitárias, meditando o santo terço, através da vida fraterna, em pobreza e obediência, somos entregues à morte, todos os dias, sentimos em nossos corpos o desgastaste feliz que nos une a Cristo, para que possamos ser mulheres espiritualmente fecundas, maternas, alegres, geradoras de vida para humanidade.
A maternidade física comporta uma comunhão especial com o mistério da vida, que amadurece no seio da mulher: a mãe admira este mistério, com intuição singular « compreende » o que se vai formando dentro de si. Este modo único de contato com o novo homem que se está formando cria, por sua vez, uma atitude tal para com o homem — não só para com o próprio filho, mas para com o homem em geral — que caracteriza profundamente toda a personalidade da mulher. Em nossa vocação singular contemplativa, a nossa comunhão com o mistério da vida começa antes de tudo, em nós mesmas. Durante o nosso processo vocacional nasce uma nova mulher, a esposa de acordo com o coração de Jesus começa a ser moldada em um processo que dura por toda a vida, e que envolve nossos familiares, aqueles que nos rodeiam e a própria comunidade que nos acolhe. Dentro do mistério de Deus, muitos homens e mulheres participam da graça desse nosso sim. Esse SIM que é uma explosão de vida, de graças, recai primeiramente sobre os nossos pais, exigindo deles a aceitação e o acolhimento da nossa vocação, quer compreendam ou não, e enquanto neles começa a morrer a posse sobre nossas vidas, como em dores de parto eles restituem a Deus o dom recebido.
« A mulher, quando vai dar à luz, está em tristeza, por ter chegado a sua hora. Mas depois de ter dado à luz o menino, já não se lembra da aflição por causa da alegria de ter nascido um homem no mundo. As palavras de Cristo referem-se, na sua primeira parte, às « dores do parto » que pertencem a herança do pecado original; ao mesmo tempo, porém, indicam a ligação da maternidade da mulher com o mistério pascal. Neste mistério, de fato, está incluída também a dor da Mãe aos pés da Cruz — da Mãe que mediante a fé participa no mistério desconcertante do « despojamento » do próprio Filho. « Isso constitui, talvez, a mais profunda “kênose” da fé na história da humanidade ». Com Maria, permanecemos aos pés da cruz como sinal de ressurreição. Em nossa maternidade espiritual as dores do mundo são as nossas dores; as notícias de mortes, guerras, violências, misérias, abandono, crises… todo tipo de maldade que é lançada sobre o homem, não são apenas notícias ou estatísticas, são gritos por misericórdia, por amor, ternura, dignidade, paz e compreensão. O nosso coração torna-se assim pela ação do Espirito Santo um colo aconchegante, onde desejamos proteger, ninar, cuidar, amar a humanidade que sofre até a doação de nossa própria vida. A lágrimas dos homens e mulheres, crianças e anciãos são nossas lágrimas. No silêncio do nosso claustro, na oração comunitária ou na solidão da nossa cela, elevamos nossas preces com clamores, e como em dores de parto a oração elevada a Jesus, através de Seu Sagrado Coração se torna consolo, alívio, esperança, cura, para que homens conheçam e creiam que Deus se interessa por nós, cuida de nós e nos deu seu Filho por amor a nós.
Rendamos graças pelas mães, pelas irmãs, pelas esposas; pelas mulheres consagradas a Deus na virgindade; pelas mulheres-mães que se dedicam a tantos e tantos seres humanos, pelas mulheres-mães que cuidam do ser humano na família, pelas mulheres-mães que trabalham profissionalmente, pelas mulheres-mães tal como saíram do coração de Deus, com toda a beleza e riqueza da sua feminilidade; tal como foram abraçadas pelo seu amor eterno.