A virgem Clara já havia percorrido 42 anos no Amor e no santo serviço do Cristo Pobre e Crucificado quando, enfim, se aproximou a recompensa de sua sublime vocação, precedida por múltiplos sofrimentos. Sucumbiu o vigor de sua carne à austeridade da penitência dos primeiros anos, e seus últimos tempos foram ocupados por uma dura enfermidade, de forma que, enquanto teve saúde, encheu-se com os méritos das boas obras em caridosas e piedosas ações e, quando ficou doente, enriqueceu-se ainda mais pelos méritos da paciência em seus sofrimentos.
No fim, pareceu debater-se em agonia muitos dias, nos quais foi crescendo a fé e a devoção do povo e foi honrada diariamente como verdadeira santa por visitas frequentes de cardeais e prelados. O admirável foi que, não podendo tomar nenhum alimento durante dezessete dias, o Senhor a revigorava e lhe dava tanta força, que ela confortava no serviço de Cristo todos os que vinham visitá-la.
Clara quis ser assistida por sacerdotes e frades espirituais para recitarem a Paixão do Senhor e ouvir suas santas palavras. Aparecendo com eles Frei Junípero que costumava soltar ditos ardentes de Deus, cheia de alegria ela perguntou se ele tinha algo novo sobre o Senhor. Frei Junípero abriu a boca e deixou sair centelhas ardentes de seu fervoroso coração, e a virgem Clara ficou muito consolada com suas palavras.
Depois recomendou, entre lágrimas, às suas filhas e Irmãs, que perseverassem na Pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo, e lembrou em louvores os inúmeros benefícios recebidos de Deus. Abençoou todos os seus devotos e devotas e implorou a graça de uma ampla benção sobre todas as senhoras dos mosteiros pobres, tanto presentes como futuras. E então, voltando-se para si mesma, disse baixinho à sua própria alma: “Vá segura, que tens uma boa escolta para o caminho. Vá, porque Aquele que te criou também te santificou; e, guardando-te sempre como uma mãe guarda seu filho, amou-te com terno amor. E Vós, Senhor, sejais bendito porque me criastes!” Uma das Irmãs perguntou a Clara com quem ela estava falando e ela respondeu: “Falo com a minha alma bendita”. E, virando-se para outra Irmã, disse: “Você está vendo o Rei da Glória que eu estou vendo?”
Pela meia noite, uma das Irmãs teve uma visão com os olhos do corpo: entrou pela porta do quarto um grupo de virgens vestidas de branco, com coroas de ouro na cabeça, e entre elas, caminhava uma mais fulgurante que todas e de cuja coroa refulgia a glória de tão irradiante luz, que a noite ficou como dia dentro da casa, e não se teve dúvida de que era a própria Mãe do Senhor, que foi até a cama em que Clara, esposa do seu Filho, estava e, inclinando-se sobre ela, deu-lhe um terníssimo abraço. As outras virgens que entraram com ela, traziam um pálio de admirável beleza com o qual cobriram honrosamente o corpo de Clara. Depois, tudo desapareceu. No ano de 1253, no dia seguinte à festa de São Lourenço, aquela alma santa deixou o corpo e entrou na Vida bem-aventurada, ornada de glória eterna no Reino Celeste.