Luísa provavelmente nasceu em Bourg-en-Bresse no dia 28 de dezembro de 1462, quinta de nove filhos do Beato Amadeu IX de Savoia e de Iolanda de França, irmã do rei Luís XI. Por parte da mãe era neta do Rei Carlos VII da França, sobrinha do Rei Luís XI e prima de Santa Joana de Valois. Se ilustre era pela nobreza de linhagem, mais ilustre se tornou pela santidade de vida.
A capital do ducado era Chambery, mas a corte era itinerante para um controle direto dos territórios sob sua jurisdição. A Casa de Savoia já então era proprietária do Santo Sudário, tesouro precioso que acompanhava a corte em seus deslocamentos. Podemos imaginar toda a veneração de que esta relíquia era alvo por parte de Amadeu e da pequena Luísa. Extremamente religioso e magnânimo, depois de ter assegurado ao seu povo um longo período de paz, o Beato Amadeu morreu em Vercelli no dia 30 de março de 1472, aos trinta e oito anos de idade. Luísa não tinha ainda dez. Herdou do pai uma fé profunda; a mãe, de caráter mais forte do que o esposo, tornara-se regente do ducado há alguns anos.
A menina foi educada admiravelmente por sua mãe. Desde muito pequena dava mostras de possuir qualidades espirituais extraordinárias. Catarina de Saulx, uma das damas de honra de Luísa escreveu sobre ela as seguintes palavras: “Era tão doce e generosa, bem disposta e amável, que despertava o afeto de todos que se deixavam levar por sua atração e conquistar pelo seu encanto”. A doçura da jovem Luísa atraiu Hugo de Châlons-Arlay, Senhor de Château-Guyon catorze anos mais velho do que ela, membro do ramo deposto dos Senhores de Borgonha, hóspede em Chambery durante sete anos após ter caído em desgraça. Os eventos políticos daqueles tempos eram muito complicados, os interesses territoriais causavam numerosas guerras. Iolanda selara um pacto com Carlos o Temerário, Duque de Borgonha, mas sendo alvo de uma suspeita de complô, foi presa com os filhos pelo seu aliado (1476). Na solidão de uma prisão não tão rígida, Luísa fez um retiro e conheceu o franciscano Padre João Perrin, que no futuro teria muita importância para ela. Hugo visitou-a na prisão e entre eles foi crescendo o afeto. Embora Luísa começasse a desejar o retiro na clausura, foi o Padre Perrin quem a convenceu de que também no matrimônio ela poderia viver santamente.
Entrementes, devido a intercessão do Rei Luís XI, Iolanda e os filhos foram libertados. Iolanda morreu no Castelo de Moncalieri no dia 29 de agosto de 1478. Luísa e a irmã Maria foram conduzidas à corte de Luís XI que se considerava tutor natural das sobrinhas. Ele tinha um interesse: o casamento da sobrinha com Hugo de Châlons significava ter um importante aliado. Luísa aquiesceu. As núpcias foram celebradas solenemente em Dijon a 24 de agosto de 1479. Luísa tinha dezessete anos. O Castelo de Nozeroy foi escolhido para morada do novo casal. Hugo se tornara proprietário de um patrimônio considerável; nos arquivos de Arlay e de Besançon podemos tomar conhecimento das largas doações feitas pelo casal aos menos favorecidos. O Senhor de Nozeroy era um homem tão bom quanto rico. De acordo com sua esposa, impôs em seu castelo uma vida perfeitamente católica.
Tanto por exemplo como por preceito, marido e mulher criaram um nível de vida moral e material para todos os que moravam em suas terras e dependiam deles de alguma maneira. Em contraste com os palácios e residências de outros nobres, o suntuoso palácio dos de Châlons parecia um mosteiro. Com grande empenho se combatia o costume de jurar ou de usar palavras grosseiras. Luísa foi a primeira dama a ter uma caixa para os pobres, na qual todos os que viviam ou visitavam sua casa tinham a obrigação de colocar dinheiro, caso jurassem ou dissessem palavras feias. Luísa prodigalizou grande caridade aos enfermos e necessitados, viúvas e órfãos, especialmente aos leprosos. Ela se dedicava pessoalmente na confecção de tecidos para distribuí-los aos pobres ou para ornamentar as igrejas. Nas vigílias das festas de Nossa Senhora, Luísa rezava 365 Ave-Marias. Rezava muitas vezes o saltério. Confessava-se frequentemente e comungava nas festas. Muitas vezes, depois duma festa mundana, dizia: “Senhor Deus, quanto estou aborrecida! De tudo isto será preciso dar contas”.
Os decotes desgostavam-na e ela proibia-os às suas damas. Não queria que se jogasse a dinheiro, mas tolerava, caso se tratasse de insignificâncias. E a quem perdia aconselhava: “Dê tudo por Deus, não conserve nada”. Enfim, a oração era o fundamento da união do casal. Tão feliz união, entretanto, durou somente dez anos: em 1490 a dor golpeia Luísa novamente. Depois de ter assistido seu esposo até seu sepultamento, restava a ela como único refúgio a fé. O casal não tivera filhos; Luísa poderia viver como rica viúva no seu castelo, ou contrair um novo casamento, mas seu desejo maior era de consagrar-se ao Senhor.
O Padre Perrin a guiou espiritualmente até seu ingresso no Mosteiro de Santa Clara de Orbe (Vaud, atual Suíça). Ela precisou de dois anos para colocar em ordem todos os assuntos; durante este período usou o hábito dos terciários franciscanos, aprendeu a rezar o Ofício Divino e se levantava a meia-noite para rezar Matinas. Toda sexta-feira se disciplinava. Distribuiu sua fortuna, contestou as objeções de seus parentes e amigos. Em vida do marido, na Quinta-feira Santa ele lavava os pés a treze pobres e ela a treze mulheres. Morrendo ele, ela manteve as treze mulheres da Semana Santa, mas acrescentou, em todas as sextas-feiras, a lavagem dos pés de cinco pobrezinhas, dando-lhes depois esmola. Finalmente, em 1492, acompanhada de suas duas damas de honra, Catarina de Saulx e Carlota de Saint-Maurice, foi admitida no Convento das Clarissas Pobres de Orbe.
Este mosteiro havia sido fundado pela mãe de Hugo de Châlons, e desde 1427 era ocupado por uma comunidade de Santa Coleta, a reformadora francesa das Clarissas. Muitas vezes Luísa ali fora para rezar e visitar sua cunhada, Filipina, monja naquele mosteiro. O hábito simples franciscano substituiu as roupas preciosas. Tendo sido um modelo de donzela, de esposa e de viúva, Luísa se tornou um modelo de monja. Foi sempre uma religiosa exemplar. Grande era seu espírito de piedade e de oração, em uma atmosfera austera e pobre. Sua humildade era sincera e natural: lavava os pratos, varria, ajudava na cozinha, limpava os corredores e tudo fazia bem e com gosto. Com a mesma simplicidade e naturalidade aceitou e desempenhou o cargo de abadessa quando a elegeram. Neste cargo mostrou especial solicitude em servir aos frades de sua Ordem, e qualquer deles que chegassem a se hospedar no convento era atendido regiamente; a presença dos padres e dos irmãos era como uma bênção de Deus e nada podia faltar aos filhos do “bom pai São Francisco”.
Escreveu meditações sobre o Rosário e é-lhe atribuído um pequeno tratado sobre a importância da fidelidade à Regra, e os sinais de tibieza num mosteiro. Citemos: “Quando se frequentam demais os locutórios… Quando se leem livros espirituais mais para aprender do que praticar; quando se leem capítulos por costume e se dizem culpas a fingir e não para procurar emenda… Quando se tem mais cuidado do exterior que do interior…”. Estes manuscritos foram levados pelas irmãs quando da transferência de Orbe para Evian, mas hoje estão desaparecidos.
Ela também teve muito empenho na canonização de Colette de Corbie. Entre 1492 e 1495, a Irmã Luísa tomou medidas para encerrar o caso de forma bem sucedida, pedindo também o apoio do rei da França, mas suas aspirações serão realizadas séculos depois: primeiro com a beatificação de 23 de janeiro de 1740 pelo Papa Clemente VIII (1536 – 1605) e depois com a canonização de 24 de maio de 1807 sob o pontificado de Pio VII (1742 -1823). No último período de sua vida Santa Luísa sofreu diversas doenças. Morreu sussurrando o nome da Virgem Maria no dia 24 de julho de 1503. Tinha somente quarenta anos; foi sepultada no cemitério do convento. A fama de sua santidade logo se difundiu; as primeiras notas biográficas foram escritas por Catarina de Saulx, sua companheira fiel por vinte anos, antes e depois da entrada no mosteiro.
Quando em 1531 as monjas foram expulsas de Orbe, os seus despojos, bem como os da cunhada Filipina, foram colocados em uma única arca de carvalho, transportada para o convento franciscano de Nozeroy. Durante a nefasta Revolução Francesa o convento foi destruído e se perdeu qualquer pista dos túmulos. Em 1838, escavações foram feitas em busca da arca, a qual foi encontrada em boas condições. Os ossos de Luísa foram reconhecidos pelo médico Dr. David após uma escrupulosa perícia baseada na altura e idade das duas falecidas. Foram confiadas ao Mons. Vogliotti, capelão régio, a fim de serem transportadas a Turim para serem colocadas, com as devidas honras, na capela interna do Palácio Real, na época paróquia, junto ao altar dedicado ao pai de Luísa, o Beato Amadeu IX (1840).
O Papa Gregório XVI confirmou, em 1839, o culto prestado deste tempo imemorial à beata. Teve Ofício e Missa nas dioceses do antigo reino da Sardenha, a 11 de agosto, e entre os franciscanos, a 1º de outubro; ficou sendo festejada a 24 de julho.