Na vida de Francisco percebemos que não há uma descontinuidade, pelo contrário, os fatos, os acontecimentos, as provas, são como que um caminho espiritual, um itinerário místico para quem deseja se fazer amante seguidor do Cristo Pobre e Crucificado em Amor Inefável. Nós, que conhecemos Francisco, sabemos que não lhe faltaram provas, fadigas, críticas, tribulações. Ainda no tempo de sua juventude e conversão, além do difícil trabalho interior para compreender o chamado de Deus, encontrou também uma dura prova no comportamento, na violência, na intransigência de seu pai, Pedro de Bernardone. Seu desnudamento na praça de Assis nos mostra um momento delicado e forte para a vida do jovem Francisco, para os afetos mais importantes, sua família, sua relação com os amigos, com os bens materiais. Uma verdadeira crise sobre sua escolha de vida que o marcará de modo profundo. Colocar-se daquela forma diante de seu pai, à vista de toda a cidade. Este pai que via em seu filho a projeção e extensão de sua vida comercial em ascensão. Francisco reconhece em seu pai uma posição inimiga que impede com força a sua escolha. Porém, vemos a atitude do bispo que o cobre e acolhe, o povo que derramava lágrimas diante do despojamento do jovem e que, portanto, não foi visto como mais um de seus excessos juvenis, pelo contrário, reabilitava a sua imagem diante de todos. E Francisco reviverá esta experiência de espoliação por amor a Cristo como um ensinamento e um valor que terminará com seu último desnudamento na Porciúncula já às portas da irmã morte corporal. Portanto, é possível percebermos como Francisco, desde o início, enfrentou suas duras provas e que ele compreendeu logo que não estava em jogo apenas a gestão comercial dos tecidos de seu pai e dos bens familiares, mas estava em jogo a sua vida e que, ele deveria subitamente escolher ali, se assumiria uma vida medíocre com os sucessos previstos pelas ambições de seu pai ou escolher uma outra vida, uma vida ao máximo que lhe estava propondo Jesus. E em sua escolha, vemos que sua jovem vida não podia mais fechar-se em uma loja de tecidos preciosos.
Na sua consciência de jovem filho que se abria à vida, Francisco descobre um outro Pai, um Pai que conhece profundamente a sua pessoa, vê nele um desejo de algo maior e quer investir nele; um Pai que lhe confia a Sua Igreja, como no ideal cavalheiresco de seu tempo que o fazia desejar gastar a sua vida por amor verdadeiro; o Pai nosso que está nos céus
Oração: “Altíssimo e glorioso Deus, iluminai as trevas do meu coração e dai-me uma fé direita, esperança certa e caridade perfeita, bom senso e conhecimento, Senhor, para que faça Vosso santo e verdadeiro mandamento”.