A União com Deus e a Doçura da Caridade

São Boaventura fala dos degraus que conduzem à união esponsal da alma contemplativa com Deus
L_on Fran_ois B_nouville, S. Chiara in meditazione, 1854, Mus_e d_partemental de l'Oise, Beauvais

Da Obra “De Triplici Via” de São Boaventura

Os degraus que conduzem a alma à doçurada caridade pela inspiração do Espírito Santo são sete: solícita vigilância, serena confiança, desejo ardente, sublime transporte, quieta complacência, deliciosa alegria, aglutinante união. Percorridos na ordem indicada, esses degraus elevam a alma à perfeição da caridade e ao amor do Espírito Santo.

É necessário, com efeito, que a vigilância seja solícita, porque a vinda do esposo é subitânea; assim é preciso dizer com o salmista: Meu Deus, meu Deus, desde o romper do dia fico vigilante; e com o rei sábio: Enquanto eu durmo, vela o meu coração; e com o profeta: Durante a noite a minha” alma vos cobiça e desde a madrugada o meu espírito vos aguarda no fundo do coração.

Em seguida, é preciso que seja serena a confiança, pois que é certa a vinda do esposo; tanto que se pode exclamar: Sois vós, Senhor, a minha esperança, jamais serei enganado; e com Jó: Ainda que me venha a matar, é nele que terei esperança.

Em terceiro lugar, deve ser ardente o desejo pela doçura do esposo, para que a sua satisfação seja agradável, como o dessedamento de um sequioso, a fim de repetir: Assim como o cervo deseja a fonte das águas, assim a minha alma vos deseja meu Deus. E como o Cântico dos Cânticos: O amor é tão forte como a morte e eis que desfaleço de amor!

Em quarto lugar, é mister que o transporte sublime a alma até as alturas celestes do esposo, para que ela exclame: como são belas as vossas moradas, ó Senhor Deus dos exércitos! E com a esposa dos Cantares: A traí-me, para que eu corra em vosso encalço. E com Jó: A minha alma prefere a violência.

Em quinto lugar, a quieta complacência conserva a alma em suave tranqüilidade, como a esposa diante do esposo, de modo a poder dizer com a esposa dos Cantares: O meu amado me pertence, e eu a ele. E noutro lugar: Meu dileto é claro e loiro, escolhido entre milhares.

Em sexto lugar, uma deliciosa alegria, devido à plenitude do esposo, enche a alma e ela pode exclamar: Do mesmo modo que as aflições em turba contristaram o meu coração, agora as vossas consolações regozijam a minha alma. E noutro lugar: Quão grande é o número de vossas consolações, ó Senhor! E com o apóstolo: No meio de todas as minhas aflições estou repleto de consolações e superabundante alegria.

Em sétimo lugar, se encontrará a alma em tal união amorosa com o esposo, que estará cem.o que aglutinada a ele e poderá dizer: Minha felicidade é estar unida a Deus. E ainda: Quem nos separará do amor de Cristo?

Assim, a vigilância nos faz considerar quanto é justo, útil e agradável amar a Deus; a confiança, oriunda dessas reflexões, suscita o desejo, e este o transporte, a complacência a alegria, até que a alma se encontre na perfeita união com Deus, à qual suplicamos que ele nos faça chegar. Amém

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