A relação de Clara como mãe espiritual
Foi na pequena igrejinha de Santa Maria dos Anjos da Porciúncula que a jovem Clara de Favarone, ao deixar a casa paterna no Domingo de Ramos de 1211, teve os cabelos cortados por São Francisco e se consagrou inteiramente a Deus. Acolhida no Altar da Virgem Maria, ali Santa Clara é gerada para ser Esposa, Mãe e Irmã de Nosso Senhor Jesus Cristo, vocação ligada à vida da Mãe de Deus, que em Nazaré acolheu o Filho de Deus em seu cotidiano simples e humilde para dar Cristo ao mundo.
Santa Clara viveu esta maternidade espiritual seguindo a vida e pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe. Esta maternidade se extende desde as Irmãs até o mundo inteiro, sem renunciar à própria virgindade, vivendo no seu corpo e na sua vida o mistério do nascimento do Senhor nos passos da Mãe de Deus.
Como a Santíssima Virgem Maria, também a Igreja da Porciúncula se tornou lugar de dispensação das graças da salvação que Cristo realizou na Cruz. São Francisco, pela condescendência que o inclinava ao próximo, chorava com tanta ternura de compaixão quando via alguma alma em pecado que, como uma mãe em Cristo, as dava à luz cada dia em suas orações. Por isso, quis o Poverello que todos os cristãos que de coração se arrependessem dos seus pecados fossem perdoados e reconciliados com Deus e que, em Santa Maria dos Anjos, pudessem receber uma indulgência plenária, ou seja, ter as consequências dos pecados já perdoados e suas penas temporais apagadas.
Desta forma, em 1216, quando em contemplação na igrejinha, Francisco viu sobre o altar Cristo e à sua direita sua Mãe Santíssima circundados de uma multidão de Anjos. Perguntado sobre qual seria o seu pedido, o santo de Assis respondeu que desejava tal indulgência, ao qual o Senhor com benignidade acolheu. Dirigindo-se imediatamente ao Papa, teve a indulgência plenária aprovada e, alguns dias depois, Francisco pôde anunciar entre lágrimas ao povo reunido na Porciúncula: “Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!”
Para quem deseja lucrar a Indulgência Plenária da Porciúncula, é necessário visitar no dia 2 de agosto de cada ano uma igreja paroquial e nela rezar o Credo, o Pai Nosso e uma oração nas intenções do Papa. Também é necessária a Confissão Sacramental e a participação na Santa Eucaristia. A graça da indulgência pode ser pedida para si mesmo ou para um falecido.
Clara, serva de Deus, levanta-se e sobe apressadamente
“Maria levantou-se e partiu apressadamente” é o tema da trigésima sétima Jornada Mundial da Juventude, que acontece de primeiro à seis de agosto em Lisboa, Portugal. A frase bíblica, retirada do Evangelho de São Lucas, dá início ao relato da Visitação.
Maria de Nazaré é a grande figura do caminho cristão, que nos ensina a dizer sim a Deus. Depois da Anunciação, Maria teria podido concentrar-se em si mesma, nas preocupações e temores derivados da sua nova condição; mas não! Entrega-se totalmente a Deus! Pensa, antes, em Isabel. Levanta-se e põe-se em movimento, porque tem a certeza de que os planos de Deus são o melhor projeto possível para a sua vida. Maria torna-se templo de Deus, imagem da Igreja em caminho, a Igreja que sai e se coloca ao serviço, a Igreja portadora da Boa Nova.
Como imitadora da Virgem Maria, Clara também não repousa quando, tão jovem, dá o seu Sim a Deus e se torna Esposa, Irmã e Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tendo encontrado Aquele que tanto desejava, levanta-se e corre cada vez mais em direção do cumprimento da Palavra de Deus que escuta aos pés de Jesus. Ali, o exemplo da Mãe do Senhor se torna para Clara um caminho missionário na vida humilde e simples escondida no claustro. É a maternidade espiritual voltada para todo o mundo pela intercessão, a reconstrução da Igreja iniciada com São Francisco e continuada pela jovem de Assis, cujo perfume se espalha para além dos muros do Mosteiro, concebendo e dando à luz ao Cristo para toda a humanidade.
Em Maria, há a pressa típica daqueles que receberam dons extraordinários do Senhor e não podem deixar de partilhar, de fazer transbordar a graça imensa que experimentaram. É a pressa de quem sabe colocar as necessidades do outro acima das próprias. Maria é exemplo de jovem que não perde tempo a mendigar a atenção ou a aprovação dos outros. Nestes passos segue Clara de Assis, que desprezando as honras e pompas do mundo, e seu título de nobreza, se faz pobre com o Cristo Pobre sem se importar com seu status. Nesta vida onde a pobreza é a renúncia de si mesma e principalmente do egoísmo, Clara pode partilhar com toda a humanidade o tesouro escondido que encontrou em seu coração. Tesouro que é o Sumo Bem, o próprio Deus.
Jesus é a resposta de Deus face aos desafios da humanidade em todos os tempos. E esta resposta, Maria leva-a dentro de si quando vai ao encontro de Isabel, e também Clara quando intercede pelos membros da Igreja. O maior presente que Maria oferece à sua parente idosa e Clara a toda a humanidade é dar-lhe Jesus: nada teria podido encher a casa de Zacarias com uma alegria tão grande e um significado assim pleno como o fez a presença de Jesus no ventre da Virgem, que se tornara o tabernáculo do Deus vivo. Também com Clara, a maior alegria para a Igreja foi trazer o Cristo Pobre e Crucificado espiritualmente ao mundo.