Passagem para Vida Eterna – Ir. Maria Betânia de Jesus Hóstia

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Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

“Sede bendito Senhor por me terdes criado! ” É o que bem poderia exclamar Ir. Maria Betânia de Jesus Hóstia ao deixar este mundo para o Pai, pois de fato sua vida se desenrolou num grande louvor e ação de graças a Deus. Com 87 anos de vida, sendo 56 de vida religiosa e os 8 últimos em constantes enfermidades até ficar completamente acamada, o seu principal testemunho foi o fervor no seguimento de Cristo na vida religiosa. Onde o vivenciar de cada virtude se refletia em cada pequeno acontecimento da vida mesmo nos mais desagradáveis ou dolorosos. Por seu espírito de fé, entendia que tudo a fazia participar do mistério de Cristo.

Deixou de seguir uma carreira acadêmica como seria próprio de sua educação, para iniciar sua vida religiosa aos 27 anos, no Mosteiro Santa Clara, em Campina Grande, na Paraíba, no qual entrou a 14 de dezembro de 1959. Exerceu desde os ofícios de limpeza, aos cargos de governo e formação, realizando tudo em espírito de humildade, obediência e serviço.

Em 1994 veio com o grupo das primeiras Irmãs para a fundação do Mosteiro do Santíssimo Sacramento, em Canindé, onde permaneceu como Vigária da Fundação até ser eleita a primeira Abadessa do mesmo em 1999, cargo que ocupou até 2005.

De têmpera dócil, mas também resoluta, conduzia a Comunidade na fidelidade ao ideal de nossos pais fundadores. Dedicou-se de tal forma a edificação deste Mosteiro, que não se cansava de pedir ajuda de perto e de longe para ver concretizada esta obra de Deus.

O que mais destacou em sua espiritualidade, foi a intensa vida de oração e adoração eucarística que permeava todo seu ser e que ela nutria fervorosamente. Era o seu sustento em todas as horas, inspiração para todos os trabalhos, força em suas enfermidades. Ainda quando podia se dirigir ao Coro, mas já idosa, para não chegar atrasada levantava-se antes das outras, com a devida permissão da Madre. Aliás, nada fazia sem permissão, até os mínimos pormenores, que em muitas ocasiões não é dada tanta importância. Era comum, vê-la chamar a Madre para fazer seus pequenos pedidos como por exemplo, concertar peças de roupas no recreio, colocar cuscuz para os passarinhos depois do café, pedir ajuda de alguma juniorista e até na sua última Missa participada conosco – a Missa de Ano Novo- antes de partir para o Pai, perguntou a Madre se podia comungar, e recebendo a resposta afirmativa foi grande sua expressão de alegria.

Imenso sofrimento em sua vida foi não poder ir mais ao Coro para rezar como habitualmente fazia. Fora lá diante de Jesus Eucarístico, que passou as maiores e melhores horas de sua vida. Mesmo acamada na enfermaria era comum ouvi-la cantar hinos de adoração eucarística e oferecer a todos que se aproximavam um sorriso cheio de paz. Em todo o tempo de suas várias enfermidades, jamais se queixou, antes, se preocupava com as Irmãs que dela cuidava, dando constante exemplo de paciência e caridade.

Sua expressão de felicidade era visível durante a adoração, comungava e rezava o Ofício com muito recolhimento, oferecendo a firmeza de sua voz para sustentar o fervor nos cantos e orações. E enquanto participou da Santa Missa, antecipadamente rezava a Via-Sacra. Fiel aos exercícios em Comunidade, só as enfermidades a afastou, e era grande sua alegria quando recebia a visita das Irmãs reunidas nos momentos festivos de celebração como Natal, Reis, São Nicolau, Mês de Maio, Corpus Christis, etc.

Quando Mestra de Noviças e Junioristas, todas recordam que sua principal instrução era sempre para incentivar as Irmãs para uma intensa vida de oração. Na vida fraterna sua nobreza de alma aparecia facilmente em mil gestos de pequenas delicadezas para com todas. Era firme, mas não áspera nas palavras, sempre tinha uma palavra boa para comunicar. Preocupava-se pelo bem de todas, logo percebia quando uma Irmã não estava bem ou doente, e fazia gestos discretos para informar a Madre. Sabia também agir com sabedoria com as mais caprichosas, por exemplo

quando uma Irmã sem uma razão muito clara, passava a alimentar-se mal, dizia: “- Madre dê um ‘chega’ nela. ”

O silêncio orante em que vivia era a prova de sua autêntica vida interior, não era precipitada na fala, jamais a encontrávamos em conversas fora de hora nos corredores, nas horas de silêncio, e muito menos criticando alguns fatos que se contavam sobre pessoas ou situações. E, no entanto, sua presença no recreio era notável pela alegria de sua comunicação; sempre tinha uma boa resposta espirituosa que a todas fazia rir.

Nas celebrações do Mês de Maio, Mês da Bíblia revelava toda sua criatividade envolvendo as Irmãs em pecinhas e dramas, como ela mesma denominava. E ela era a diretora que tudo organizava. Saia uma verdadeira apoteose teatral!

Era muito atenciosa para com todas as visitas, os benfeitores, os romeiros, pessoas

que vinham pedir orações, principalmente com a família das Irmãs. Sabia dedicar-se a todos e trazendo-os para sua oração.

Sua gratidão e alegria era sensível diante de toda e qualquer doação que recebíamos. Sempre tinha um atencioso “Deus lhe pague” para oferecer pelos menores benefícios que recebesse, mesmo quando esses eram as dolorosas agulhadas ou o colocar da sonda pelo enfermeiro (sonda esta que ela em sua inconsciência muitas vezes retirava), a rápida visita das Irmãs durante o dia recebia também seu agradecimento. Aliás sua presença era como um baluarte de perseverança e intercessão para nós. Quantas vezes íamos lhe recomendar intenções e a nós mesmas; saíamos sem dúvidas reconfortadas por seu olhar terno que nos fortalecia na caminhada.

Alma profundamente franciscana era amante do mistério do Natal, o qual vivia intensamente. Embora sofresse de Alzheimer, neste último Natal esteve prolongadamente consciente sem alternância. Desde o início de dezembro, as Irmãs que cuidavam dela colocaram sobre seu peito uma pequena imagem do Menino Jesus que ela muito amava. Ali era tudo o que precisava para transbordar seu amor e ternura, conversava com o Menino irradiante de alegria, cantava frequentemente para ele. Com as forças que ainda lhe restavam, na véspera de sua partida conversou muito com as Irmãs, rezou o mistério do Terço, respondia a todas as perguntas e

sorria constantemente com o olhar, ora voltado para cima, ora para as Irmãs. E  cantou enquanto pôde o “Noite Feliz”. De fato, parecia ser a noite mais feliz de sua vida, aquela que antecedeu a sua manhã na Eternidade feliz. Passada a madrugada da agonia acompanhada pelas Irmãs que terminavam as orações prescritas no Cerimonial para as agonizantes, serena, e com visível ar de sorriso as 04:20 da manhã, Irmã Betânia atende a Voz do Esposo Celeste que a chamou de volta para o Pai.

Sem dúvida, a passagem de Irmã Betânia por esta vida foi marcada pelo amor. Sua vida ressoa para nós como testemunho eloquente de que “o Amor de Deus faz feliz” e sacia plenamente as nossas aspirações. De que vale mesmo a pena arriscar toda a existência no seguimento de Cristo pobre, humilde, crucificado. E de que o tudo deste mundo é muito pouco, para quem tem a Deus e o encontrou como único tesouro.

Com saudades e gratidão, Irmãs Clarissas de Canindé.

Em louvor de Cristo. Amém

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