Roma, 8 de dezembro de 2022
A todos os Frades Menores da Ordem
Às Irmãs contemplativas da nossa Família
Aos irmãos e amigos da nossa Ordem
Caros Irmãos e Irmãs, o Senhor vos dê a paz!
Este Natal nos leva a contemplar já os 800 anos do Natal de Greccio que celebraremos em 2023.
Nisso reconhecemos sinais de luz e sinais de trevas, entre a alegria, a noite e a pobreza do lugar.
«E aproximou-se o dia da alegria, chegou o tempo (cf. Tb 13, 10; Ct 2, 12) da exultação. Os irmãos foram chamados de muitos lugares; homens e mulheres daquela terra, com ânimos exultantes, preparam, segundo suas possibilidades, velas e tochas para iluminar a noite que com o astro cintilante iluminou todos os dias e os anos. Veio finalmente o santo de Deus e, encontrando tudo preparado, viu e alegrou-se (cf. Jo 8,56). E, de fato, prepara-se o presépio, traz-se o feno, são conduzidos o boi e o burro. Ali se honra a simplicidade, se exalta a pobreza, se elogia a humildade; e de Greccio se fez como que uma nova Belém»2.
A luz do Natal, e do Centenário de Greccio, chega em um tempo sombrio, no qual a paz é ameaçada, na Ucrânia e em outras partes do mundo onde há tantos conflitos, do Oriente Médio a não poucos países africanos, do Caribe à América Central e do Sul, da Ásia à Oceania. Muitos dos nossos irmãos e irmãs vivem nestas fronteiras de guerra e permanecem junto às pessoas, especialmente os pobres.
Hoje, mais do que nunca, fazemos nosso o grito de Jeremias:
«Esperamos a paz, e nada de bom aconteceu! O tempo da cura, e é só terror»3
É um grito de tanta humanidade e queremos fazê-lo nosso apresentando-o a Deus, que nos sacode de nossa indolência e distração, e nos provoca a uma ação e a um pensamento novo.
É com esse grito que, com Francisco, nos preparamos para o Natal: «Quero celebrar a memória daquele menino que nasceu em Belém (cf. Mt 2, 1.2) e ver de algum modo com os olhos corporais os apuros e necessidades da infância dele, como foi reclinado no presépio (cf. Lc 2, 7) e, como estando presentes o boi e o burro, foi colocado sobre o feno»4.
Com o olhar da luz e a escuridão da noite de Greccio e de Belém, podemos nos unir ao grito de tantos que clamam por paz e esperança: não é um anestésico, mas a maneira de ler os sinais dos tempos e reconhecer na escuridão desta hora dramática os sinais de uma vida que é a luz dos seres humanos, luz que brilha, mesmo se as trevas não a acolham5.
O Centenário do Natal de Greccio é uma ocasião para anunciar a luz do Evangelho nestes tempos sombrios. De que modo? Segundo a lógica da Encarnação, para proclamarmos Deus, temos de amar a terra. Deus olha com amor o mundo em crise e, por isso, doa seu Filho e, na fé, nos permite reconhecer justamente no mundo de hoje mais portas abertas do que fechadas, mas oportunidades do que sinais de morte.
Proponho algumas luzes e oportunidades que consigo perceber em nosso hoje.
A crise deste tempo sombrio é oportunidade para um encontro novo com Aquele que por nós se fez pobre; é ocasião para cada um e para as nossas fraternidades, que precisam de uma reforma profunda e urgente se querem ter um futuro viável e credível no nosso tempo.
A crise deste tempo sombrio é oportunidade para reafirmar hoje a fé e o carisma com palavras mais essenciais e com ações que demonstrem isso por meio de relações novas. Francisco sobe a Greccio com os irmãos, com os camponeses e os pobres, com o nobre daquela aldeia, sem qualquer barreira.
A crise deste tempo sombrio é oportunidade para escutar o Evangelho da paz como critério para repensar a fé em Jesus Cristo enquanto memória e profecia, a fim de interpretar de modo novo, dinâmico e criativo o nosso carisma de irmãos e irmãs, contemplativos, menores, mansos e pacíficos.
A crise deste tempo sombrio é oportunidade para cultivar o diálogo: a guerra na Ucrânia revela a desconcertante e dolorosa contraposição entre Igrejas cristãs. É uma provocação que desmascara as instrumentalizações que o poder faz das religiões, que podem não ser “instrumentos do Reino”.
A crise deste tempo sombrio é oportunidade para cultivar a teoria e a prática da não-violência, que tem profundas raízes evangélicas e franciscanas, que até entre nós devem ser aprofundadas.
Caros irmãos e irmãs!
Com a solenidade da Virgem Imaculada, no coração do Advento, nos preparamos para viver um Natal luminoso e sombrio ao mesmo tempo, como em Belém, onde o Menino que nasce é ameaçado, e como em Greccio, onde Clara nos convida a «prestar atenção no princípio do espelho: a pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio! (cf. Lc 2, 12). Admirável humildade, estupenda pobreza! O Rei dos anjos, o Senhor do céu e da terra (cf. Mt 11, 25) repousa numa manjedoura»6.
Acolhamos este dom do alto porque «como a terra faz germinar as plantas e o jardim faz brotar as sementes, do mesmo modo o Senhor DEUS faz brotar a justiça e a glória na presença de todas as nações»7.
Somos testemunhas de que a paz é dom antes de ser obra nossa e, por isso, colaboramos com o Senhor em vista da floração da vida plena que Ele quer derramar sobre todos.
Nesse espírito, dirijo a todos e a todas os meus mais fraternos votos de um Santo Natal e de um Feliz Ano Novo 2023, início do Centenário Franciscano. Que esta saudação alcance os diversos contextos e situações em que vivemos. Que seja um Natal em que, na espera orante, possamos gritar em comunhão com tantos:
«Céus, destilai orvalho lá do alto, nuvens, fazei chover a justiça! Abra-se a terra e desabroche a salvação! Com ela brote a justiça: eu o SENHOR criei isto»8
Vosso irmão e servo
Fr. Massimo Fusarelli, ofm
Ministro Geral
- Is 9,1
- 1Cel 85.
- Jr 14, 19.
- 1Cel 84.
- cf. Jo 1, 4-5.
- Quarta Carta a Inês de Praga (4In), 19-21.
- Is 61,11.
- Is 45,8.