A Profissão Religiosa e o Batismo

Expressão mais perfeita da consagração batismal, São João Paulo II explica o vínculo novo do homem com Deus na vida consagrada.
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São João Paulo II

A vocação, amados Irmãos e Irmãs, levou-vos à profissão religiosa, graças à qual vós fostes consagrados a Deus, mediante o ministério da Igreja; e, ao mesmo tempo, fostes incorporados na vossa Família religiosa. Por isso, a Igreja pensa em vós, em primeiro lugar enquanto sois pessoas “consagradas”: consagradas a Deus em Jesus Cristo para lhe pertencerdes exclusivamente. Esta consagração determina o vosso lugar na ampla Comunidade da Igreja, do Povo de Deus; ao mesmo tempo, introduz na missão universal deste Povo recursos especiais de energia espiritual e sobrenatural: uma peculiar forma de vida, de testemunho e de apostolado, na fidelidade à missão do vosso Instituto, à sua identidade e ao seu património espiritual. A missão universal do Povo de Deus está radicada na missão messiânica do próprio Cristo – Profeta, Sacerdote e Rei – na qual todos participam de diversas maneiras. A forma de participação própria das pessoas “consagradas” corresponde à forma do vosso enraizamento em Cristo. E é precisamente a profissão religiosa que determina a profundidade e o vigor deste enraizamento.

A mesma profissão cria um vínculo novo do homem com Deus uno e trino, em Jesus Cristo. Este ligame tem fundamento e é acréscimo daquele vínculo original, que se estabeleceu no sacramento do Batismo. A profissão religiosa “tem as suas raízes profundas na consagração do Batismo e exprime-a mais perfeitamente”. Deste modo, ela torna-se, no seu conteúdo constitutivo, uma nova consagração: a consagração e a doação da pessoa humana a Deus, amado sobre todas as coisas. O compromisso assumido mediante os votos de pôr em prática os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, segundo as disposições próprias das vossas Famílias religiosas, conforme se encontram determinadas nas respectivas Constituições, representa a expressão de uma consagração total a Deus e, conjuntamente, o meio que leva à sua realização. Aqui vão buscar também a própria forma o testemunho e o apostolado peculiar das pessoas consagradas. Importa, no entanto, procurar a raiz desta consagração consciente e livre e da subsequente entrega de si mesmo a Deus para Ihe pertencer no Batismo, sacramento que nos conduz ao mistério pascal, como vértice e centro da Redenção realizada por Cristo.

Por conseguinte, quando se quer pôr totalmente em realce a realidade da profissão religiosa, é necessário referir-se às vibrantes palavras de São Paulo na Carta aos Romanos: “Ou ignorais, porventura, que todos os que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos imersos à semelhança da sua morte? Por meio do Batismo fomos, pois, sepultados juntamente com Ele, à semelhança da morte, para que, assim como Jesus Cristo… assim caminhemos, nós também, numa nova vida”. “O nosso homem velho foi crucificado com Ele… a fim de já não sermos escravos do pecado”. “Do mesmo modo, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Jesus Cristo”.

A profissão religiosa – assente na base sacramental do Batismo, em que está radicada – é uma “nova sepultura na morte de Cristo”: nova, pela consciência e pela escolha; nova, mediante o amor e a vocação; nova, enfim, mediante a incessante “conversão”. Essa “sepultura na morte” faz com que o homem “sepultado juntamente com Cristo”, “caminhe como Cristo numa vida nova”. Em Cristo crucificado vão encontrar o seu fundamento último quer a consagração batismal, quer a profissão dos conselhos evangélicos; esta, na palavra do Concílio Vaticano II, “constitui uma consagração especial”. É simultaneamente morte e libertação. São Paulo escreve: “considerai-vos mortos para o pecado”; ao mesmo tempo, porém, chama a esta morte “libertação da escravatura do pecado”. A consagração religiosa, todavia, sobre a base sacramental do santo Batismo, constitui sobretudo uma vida nova “para Deus em Cristo Jesus”. E eis que assim, conjuntamente à profissão dos conselhos evangélicos, dum modo muito mais amadurecido e mais cônscio é “deposto o homem velho”; e, da mesma maneira, é “revestido o homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e na santidade verdadeira”, querendo usar, uma vez mais, as palavras da Carta aos Efésios.

Exortação Apostólica Redemptionis Donum

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